quarta-feira, 16 de abril de 2008

Dica Extremamente Cultural





LUA DE FEL (BIITER MOON)

Nigel (Hugh Grant, na época ainda um ilustre desconhecido), e sua mulher Fiona (Kristin Scott Thomas) partem num cruzeiro pelo Mediterrâneo para "comemorar" o 7º aniversário de casamento. Lá conhecem um excêntrico casal formado pela estonteante francesa Mimi (Emmanuèlle Seigner) e seu marido paraplégico, o escritor americado decadente Oscar (Peter Coyote).


A aparente ingenuidade e instabilidade do casal inglês - Nigel e Fiona - logo os torna alvos fáceis para os jogos perigosamente sensuais de Oscar e Mimi. Percebendo o involutário interesse de Nigel por sua mulher, Oscar atrai o inglês para longas sessões de conversas em sua cabine, onde relata detalhadamente a história do seu relacionamento com Mimi.


Eles se conheceram há alguns anos em Paris, quando Mimi era apenas uma garçonete aspirante a dançarina. Enfeiteçado pela beleza da francesa, Oscar não poupou esforços em seduzí-la, o que foi uma tarefa até bem fácil. Logo ambos estavam completamente apaixonados e seduzidos, dependentes um do outro, morando juntos no loft do escritor e passando dias e noites inteiras exercitando todas as possibilidades sexuais que uma paixão tão avassaladora permite. Na verdade, não havia limites no relacionamento do casal, e todas as fronteiras possíveis foram rompidas em nome da incontrolável paixão, do incontrolável desejo.


Mas, segundo as palavras do próprio Oscar, toda paixão avassaladora quando atinge o topo tende obrigatoriamente ao declínio, e essa fase também chegou para o casal. A relação foi perdendo a graça, e logo aquilo que era apenas paixão virou indiferença, evoluindo para o desrespeito.


Mimi, totalmente dependente e obcecada por essa relação, sujeitou-se a toda sorte de humilhações para mantê-la, e foi aí que Oscar pode exercitar seu lado sádico ao extremo, na esperança de que a moça finalmente desistisse daquela história. Como isso não aconteceu, ele tomou uma atitude extrema, despachando a moça para bem longe sem que ela pudesse desconfiar. Não havia piedade em Oscar, da mesma forma que não havia lucidez em Mimi. Ele só queria poder exercitar seus dedejos sexuais com outras pessoas, queria viver toda a farra sexual que pudesse com outras mulheres, e Mimi, por sua vez, só queria manter aquela história efêmera que viveram no auge da relação, porque não tinha maturidade suficiente para entender que isso jamais seria possível.


Mas a vida está sujeita a toda sorte de infortúnios, e como diria o ditado, "a vingança é um prato que se come frio", de modo que mais cedo ou mais tarde chegaria a hora e a vez de Mimi devolver todo o sofrimento que Oscar a fizera passar. Tratava-se de uma troca. Houve um tempo em que trocavam e compartilhavam fantasias sexuais apaixonadas. E chegou o tempo em que passaram a trocar torturas físicas e psicológicas por conta do ódio nascido a partir de uma paixão morta.


Toda essa história é contada por Oscar a Nigel em sessões diárias de conversas intermináveis, e embora o inglês ficasse atordoado com a intensidade e perversidade da história, não conseguia se afastar de Oscar, porque sabia inconscientemente que ali estava seu passaporte para Mimi. Tudo tratava-se de um jogo, mais um jogo de sedução com consequências extremas, e Nigel não teve força suficiente para livrar-se dessa teia que se formou, colocando em risco inclusive seu já abalado casamento.


Lua de Fel é um filme extremamente polêmico. E pesado. É erótico, é violento, é avassalador. Aborda questões extremas como ódio, paixão, loucura, desejo, obsessão, vingança, respeito e desrespeito, e enquanto assistirmos nutrimos amor e ódio pelas personagens, o que mostra que ninguém é tão bom que não seja capaz de uma barbaridade, da mesma forma que ninguém é tão perverso que não seja capaz de um ato de generosidade.


Considero este um dos filmes mais sensuais que já assisti. Há cenas de algum mau gosto, é verdade, mas sem que isso faça a história se perder em argumentos eróticos sem propósito. Na verdade, cada apelo sensual do filme acaba exercendo a função de dar a devida intensidade aos sentimentos das personagens, e às suas loucuras e à maneira como cedem voluntaria ou involuntariamente à luxúria.


É mais um filme marcante na carreira do cineasta polonês Roman Polanski, diretor de ótimos filmes como "O Bebê de Rosemary", "O Pianista" e "Chinatown", dentre outros. No caso de Lua de Fel, o quarteto protagonista funcionou surpreendentemente bem, e até Emmanuèlle Seigner (então esposa de Polanski), apesar de ser uma atriz de talento discutível e beleza incomum, acaba segurando a onda de uma personagem tão peculiar.


Assim, só me resta dizer que Lua de Fel é um filme marcante, daqueles que depois que assistimos, não esquecemos tão fácil.

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